Educação Ambiental

Legado? É Drummond… Tinha uma COP no meio do caminho

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, também chamada de COP30 será realizada na Amazônia Paraense, a capital Belem do Pará. Mas o que ninguém fala é que a seis meses da Conferência do Clima de Belém, o megaevento pode causar severos impactos, tanto negativos quanto positivos.

Pontos positivos

Muitas obras, principalmente de saneamento, que são extremamente necessárias e estavam na gaveta há anos, só agora foram viabilizadas com os recursos disponibilizados, principalmente pelo BNDES e Itaipu Binacional, para a organização da COP.

Olga Lucia Castreghini de Freitas, professora visitante do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA), que é responsável por fazer uma análise crítica dos impactos do megaevento para Belém, afirma:

“Belém é uma cidade que tem uma carência estrutural e histórica de obras, de saneamento, em especial. A COP tem potencializado o surgimento de investimentos e de recursos para uma série de obras de macrodrenagem, por exemplo. Isto é um ponto positivo”.

Para ela, a restauração de pontos turísticos como o Mercado Ver-O-Peso também é considerado um ponto positivo. Mas nem tudo são flores…

Pontos negativos

Em nome da urgência para terminar tudo a tempo para a COP30, que será realizada de 10 a 21 de novembro, as obras são realizadas no famoso modo ‘rápido e mal feito’ e alguns processos desejáveis, como a transparência e a sustentabilidade, são atropelados.

A cidade é palco de dezenas obras visando sediar melhor o encontro, mas os preparativos do evento repetem os erros do passado e frustram expectativas: o que era pra ser ‘diferente e inovador’ tornou-se ‘comercial e duvidoso’. Por quê?

Remoção de pessoas: Nas regiões do Parque Linear da Tamandaré, no bairro Cidade Velha, onde vários moradores já foram removidos e suas casas foram destruídas para dar lugar a um terminal hidroviário, espaço turístico e área de lazer, mora Dona Oscarita. Segundo ela, no início até que gostou da ideia, até que a notificaram para que deixasse sua casa onde mora há décadas. Ela afirma que é sobre resistência mental:

“Eu perguntei: mas porque mexer com a minha casa se eu não moro na beira do canal? Ela me disse que vão fazer uma estação (de esgoto) aqui. A minha casa é uma casa simples, mas isso aqui para mim é um paraíso. Nem entraram na minha casa. O valor era R$ 80 mil, agora passou para R$ 96 mil. Esse valor eu não quero, porque esse valor aí não dá nem para comprar uma sepultura. Eu ainda não vou morrer!”

Sustentabilidade: Outra questão problemática é a realização de obras pouco sustentáveis. Duas grandes vias, a avenida Liberdade e a rua da Marinha estão sendo construídas ou ampliadas para solucionar problemas crônicos de mobilidade na região metropolitana, mas elas avançam sobre áreas verdes protegidas. Para a pesquisadora Olga, as obras são baseadas no ideal do rodoviarismo:

“São obras viárias baseadas no ideal do rodoviarismo, incrementando aquilo que a própria COP discute como potencializar das mudanças climáticas. Isso é o tipo de coisa que, na minha opinião e na opinião do nosso grupo de pesquisa, conflitam com os próprios interesses e com a própria noção de sustentabilidade que está envolvida nos processos ligados à discussão da COP”.

Legado: Para debater todas essas questões, o grupo de pesquisa e a UFPA organizaram, no final de abril, o seminário “Tinha uma COP no meio do caminho; nunca esqueceremos desse momento”, com a participação de pesquisadores e representantes da sociedade civil. A analogia com o poema do Carlos Drummond de Andrade “No Meio do Caminho”, foi feita por conta da “ideia de legado” que ele contém, característica também dos megaeventos, em que em nome do legado, tudo se faz.

Fonte: RFI

Lara Meneguelli

LARA MENEGUELLI é Técnica em Meio Ambiente, tradutora, redatora, multiartista e capoeirista. Com foco em educação ambiental, bio construção, permacultura, horta orgânica e práticas sustentáveis, é criadora da Casa Angola Viva. Também é brincante e pesquisadora do Grupo de Estudos da Cultura Popular Brasileira Capoeira Angola Resiste.

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