
Havia sido uma vez, um, só um, pequeno tórax com pequeno abdômen, uma pequena cabeça, minúsculas asas, antenas e pernas. Ninguém sabe como, mas desse um, surgiram ovos.
Era uma vez, desses ovos saíram uns 22 mais ou menos. Pertenciam à classe Insecta, Filo Arthropoda. Muito antes de Cristo, esses 22 cruzaram entre si num grande bacanal oferecido por um deles na periferia de Alexandria, no Egito. Das larvas surgiram as pupas e das pupas muitos, muitos outros iguais a eles. Tipo uns 1.213 novos.
Foi uma vez, uma grande festa de aniversário do Insecta mais velho. Tinha muita gente, aliás, muitos insetos. Uns 6.998 aproximadamente, mas não contabilizaram os bebês. Logo, eram quase 8.000. Na festa, era um mais bonito que o outro: uns mais redondinhos, cascudinhos e lisos, tipo um besouro; outros com asas coloridas, tipo como se estivesse na Parada Gay, eram as borboletas, lindas e plenas. Algumas convidadas eram mais recatadas, bem vestidas e padronizadas, as chamavam de abelhas e, à medida que bebiam seus drinques, eram confundidas com as vespas. As borboletas flertavam com os zangões e os gafanhotos vinham separar as possíveis brigas de casal. As joaninhas ficavam num cantinho comentando sobre suas dissertações e teses, defendidas nas melhores universidades do país. Os grilos eram garçons, ajudavam na organização, mas batiam de frente com as formigas que queriam organizar tudo, metódicas e virginianas. Os cupins se juntaram aos louva-deus para algazarras, para pôr pilha na galera inseta. Os pernilongos não deixavam ninguém em paz. As pulgas e traças, embora chatas e ordinárias, ali estavam também. As libélulas e os grilos eram os palhaços da festa, faziam teatros e brincadeiras a cada meia hora. Ninguém entendia bem, mas as donzelinhas andavam com os percevejos, aqueles feios e mal-encarados. Entretanto, o que mais tinha era mosquito e mosca. A festa acabou com a metade bêbada, novos casais, muitas cópulas e, consequentemente, muitos ovinhos.
Um mês se passou e contabilizaram nos Cartórios Insetários de todo Brasil 50.000 insetos inscritos. Pois bem, é aí que começa a história para valer.
É uma vez, um grupo de revolucionários insetos, liderados pelas Donas Zika e Malária, Seu Dengue, Senhorita Chikungunya, Senhora Febre Amarela, Comadre Leishmaniose e Senhor Chagas. Decidiram, com o apoio dos dados oferecidos pelos Cartórios Insetários e também da lista de convidados da festa de aniversário, enviar um convite por e-mail e outras redes sociais, em dez idiomas diferentes, a todos os pertencentes do reino insecta do mundo todo. Quem tinha mais tempo e podia voar para bem longe, ia bater na porta do inseto que morava distante e em lugares onde a internet não chegava. Segundo os cálculos que saíram no Jornal do Inseto, praticamente as 950.000 espécies de insetos do mundo estavam sabendo da Mega e Poderosa Reunião dos Insetos que aconteceria em três dias via Zoom Insetos.
Faltam algumas horas para o início da grande reunião. Será uma vez, uma grande reunião jamais vista por qualquer ser vivo. O objetivo da Mega e Poderosa Reunião dos Insetos via Zoom Inseto é acabar de vez com a humanidade até o final do ano. Estavam cansados de estar desunidos. Era hora de revolucionar. Segundo eles, os insetos, a humanidade precisa urgentemente deixar de ser considerada Homo Sapiens e deve passar a ser denominada Nada Sapiens ou Pouco Sapiens e, após dois meses da entrada em vigor dessa nova designação, devem sumir, desaparecer e sucumbir da face da Terra por meio das doenças que os atingirão, deixando o caminho livre para os insetos fazerem a festa.