Ailton Krenak critica o conceito de “progresso” e alerta para a vida no planeta

Em conversa com a @radiobrasildefato, o líder indígena e escritor Ailton Krenak critica o conceito de progresso e a crença de que a ciência e a tecnologia vão dar conta dos problemas causados pela lógica produtivista.
Para o escritor, a lógica produtivista aprisiona a humanidade em um ciclo de destruição:
“Me incomoda participar do ‘show do progresso’, do ‘show do sucesso’, que promete que nós vamos continuar tirando o petróleo, aquecendo a temperatura global, e que a gente vai escapar disso com ciência e tecnologia. Vamos continuar produzindo como máquinas. E nós não podemos ser uma máquina de fazer coisas. Essa maquinaria toda vai instituindo um consumo de tudo, inclusive o de nós mesmos.“
Para o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), essa lógica desenvolvimentista aprisiona a humanidade em um ciclo de destruição, no qual tudo vira mercadoria, inclusive as pessoas.
Ele lembra que a adesão do Brasil a esse modelo vem de longe. Segundo o escritor, a virada se intensificou com Juscelino Kubitschek e o seu projeto alinhado aos EUA.
“JK foi o mordomo do capitalismo que abriu a porta para arrombarem nosso território. É tudo capturado por uma agência de publicidade ilimitada, que transforma tudo em produto. A produção dos quilombos, das aldeias, dos assentamentos – vira tudo agro. E nós não podemos ser uma máquina de fazer coisas”, diz o escritor.
Quando o Brasil se alinhou tanto com o propósito capitalista?
Ailton Krenak afirma que a lógica desenvolvimentista que deixa as pessoas em segundo plano remete a pouco antes da ditadura militar, com Juscelino Kubitschek e o profundo alinhamento à ideia dos EUA do que seria moderno – incluindo a construção de Brasília (DF).
“Kubitschek escapou da crítica, mas ele foi o mordomo do capitalismo que abriu a porta para que arrombassem nosso território, nossa economia, e introduziu aqui ideias modernistas, ideias tão avançadas que deixam a gente no passado“.
No fim do dia tudo vira produto
“É tudo capturado por uma agência de publicidade ilimitada, que transforma tudo em produto. A produção dos quilombos, das aldeias, dos assentamentos rurais: vira tudo agro. Se a gente não conseguir distinguir o joio do trigo, vamos continuar incidindo sobre o corpo da Terra“.
Assista a entrevista completa:
Fonte: BdF