
A relação entre mudanças climáticas e desigualdade social é o principal tema dos estudos da climatologista alemã Friederike Otto.
À frente do grupo World Weather Attribution (WWA), a pesquisadora vem acompanhando como as populações marginalizadas e comunidades pobres sofrem os impactos mais severos da crise climática, visto que são os menos responsáveis por ela.
A climatologista é uma das pioneiras dos chamados estudos rápidos de atribuição. Eles combinam observações meteorológicas e modelagem computacional para quantificar como as mudanças climáticas influenciam a probabilidade e a intensidade de eventos extremos.
Na sua lista de trabalho está, por exemplo, o que mensurou o papel do aquecimento global nas chuvas que devastaram o Rio Grande do Sul.
Em seu livro recente “Climate Injustice: Why We Need to Fight Global Inequality to Combat Climate Change“(injustiça climática: por que precisamos combater a desigualdade global para enfrentar as mudanças climáticas), ela expõe as mudanças climáticas como sintoma de desigualdade.
“A cada estudo, percebia que os mais marginalizados são os que pagam o preço mais alto dos eventos extremos.” afirma.
As mulheres são as mais afetadas
Os efeitos são particularmente graves para as mulheres. Elas assumem a maior parte do trabalho de cuidado durante eventos extremos, são responsáveis por buscar água em períodos de seca, cuidam de crianças e idosos durante desastres, e muitas vezes trabalham em condições mais precárias.
“São elas, em geral, que cuidam dos mais vulneráveis, trabalham em condições mais precárias e tendem a usar os recursos da reconstrução para fortalecer a resiliência familiar.“
Quando ocorrem enchentes ou outros eventos extremos, as mulheres têm menos acesso a sistemas de alerta e informações, o que aumenta sua vulnerabilidade. Além disso, pesquisas mostram que quando mulheres controlam os recursos para reconstrução, há maior probabilidade destes serem investidos em resiliência familiar e comunitária.
Para a pesquisadora, a adaptação climática ainda é insuficiente e mal-direcionada e os sistemas existentes frequentemente falham em proteger os grupos como idosos e populações rurais. Ela também critica a abordagem atual que prioriza soluções técnicas em vez de sistemas simples e acessíveis.
Para superar essa situação, a cientista propõe uma mudança radical na forma de enfrentar a crise climática, integrando conhecimentos científicos de diferentes áreas.
“Estamos começando a ver pesquisadores não ficarem mais tão enclausurados em seus silos. O ideal é que cada pesquisa busque integrar essas diferentes perspectivas”.
Enfrentar a desigualdade é fundamental para combater crise climática.
A Justiça Climática só será alcançada com fissuras nas estruturas de poder da sociedade pós-colonial.
Fonte: climainfo